sábado, 13 de novembro de 2010

O Machismo na Política Brasileira


            Há duas semanas o eleitorado brasileiro foi às urnas decidir quem ocupará o cargo mais importante do país pelos próximos quatro anos. Com uma abstenção de aproximadamente 20%, a eleição terminou com a vitória da candidata Dilma Rousseff, que teve o equivalente a 55% dos votos válidos – quase 12 milhões de votos a mais que o candidato José Serra.
            Mas o que a eleição da primeira presidenta do Brasil mostra da relação entre machismo e política?
            Sempre o homem esteve mais associado do que a mulher a trabalhos que exigem mais esforço físico. Na política, que carrega uma forte imagem de disputa e necessidade de forte voz de comando, este preconceito entra em cena quando se pensa que uma mulher não vai ter a mesma capacidade de estar no controle do governo. Há ainda a idéia de que “talvez as mulheres tenham estômago pior do que os homens”, e por isso não atuem tanto no atual cenário político geral.
            Uma grande parcela da população relaciona a política diretamente com a corrupção, se esquecendo, na maioria dos casos, que são elas quem tem o poder de escolher quem comanda o governo; por isso, quem manda em um país é, indiretamente, a sua própria população. Na Grécia antiga, os cidadãos iam para uma “assembléia” de nove em nove dias, a fim de chegar em conjunto a soluções para os problemas. É claro que não devemos copiar inteiramente um sistema político que tinha como natural a escravidão e não garantia direitos às mulheres, sobretudo o direito de voto. As mulheres eram consideradas, e continuaram sendo por um bom tempo, meios de produção, um mero instrumento de procriação. Mesmo com esse conceito de democracia, por vezes tido como distorcido atualmente, todos os cidadãos se interessavam pela política.
            O sistema político ao qual estamos subordinados não nos permite uma participação tão direta nas decisões que abrangem todos os indivíduos, mas permite que de quatro em quatro anos escolhamos um líder para a sociedade; um líder que, acompanhado de outros escolhidos pela população, vai decidir as finalidades, regras e prioridades do país.
            Para aumentar a participação política feminina, há uma norma que diz que 30% dos candidatos das chapas eleitorais dos partidos deve ser mulher. Nas eleições de 2010, apenas 21% dos candidatos era do sexo feminino, enquanto um pouco mais de 50% do eleitorado brasileiro é composto por mulheres.
            O machismo está tão naturalmente presente em nossa sociedade que até a beleza da candidata Dilma Rousseff foi questionada. Teve quem não gostasse dela só por olhar em seu rosto e implicar com um suposto botox. Já o candidato José Serra também não é dos mais bonitos, mas sua beleza e charme não foram trazidos a tona além da brincadeira.
            “Eu fui votar no domingo pensando no momento histórico que estamos vivendo”, disse a professora de história Marcia Rodrigues. A professora afirma que um país machista, conservador e preconceituoso como o nosso, diante de todas as formas truculentas que foram utilizadas para não permitir que uma mulher se tornasse presidenta do Brasil, ter conseguido eleger uma mulher foi um importante momento de rompimento.
            Em um país em que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens apenas na constituição é importante a escolha de uma representante desse grupo para garantir na prática direitos iguais a ambos os sexos.
            “A mulher percebe mais coisas do que o homem. Não sei exatamente como isto vai funcionar no governo, mas a mulher tem uma capacidade melhor, uma intuição, que leva ela a compreender melhor as questões sociais”, diz Marcia Aparecida Lopes Saab, também professora de história. A professora lembra ainda que na América Latina o machismo é bastante presente, portanto também foi uma vitória para os outros países a escolha de mulheres como chefes de Estado.
            Segundo a professora Marcia Rodrigues, é importante fazer esta discussão de gênero porque os grandes nomes lembrados na história são de homens. Onde está a mulher nisso tudo? “A mulher participou da história e não apareceu. Homem e mulher têm que caminhar lado a lado”. Segundo a professora, já há piadas com relação à mulher: “Ou o país avança ou retrocede, porque estacionar a mulher não consegue”.
            Entretanto, é claro que a situação do país não é importante apenas pelo aumento da participação feminina em aspectos importantes da sociedade.
            “Tenho certeza que nesses quatro anos de Dilma ela vai fazer a diferença. Ela não vai governar apenas para as mulheres, mas para homens, para mulheres, para crianças, para jovens e todos os outros”, diz confiante a professora Marcia Rodrigues.
            “A escolha desta candidata foi importante não apenas pelo fato de ser uma mulher, mas principalmente pela proposta de continuação de um modo de governar que está dando certo”, diz Marcia Aparecida Lopes Saab. A escolha da população deve ser por uma forma de fazer política que não seja tão favorável às privatizações.
            Portanto, a escolha de Dilma para presidenta não é importante só graças à luta pelos direitos femininos, mas fundamentalmente pela sua proposta de governo. Dilma domina os assuntos políticos, por isso tem todas as chances de desenvolver o país e continuar diminuindo o abismo que é a desigualdade social. Foi neste governo, o primeiro no país que não foi de um representante das elites, que além de dar melhores oportunidades na vida a pessoas mais humildes, o crescimento econômico se mostra grande como não foi em governos que se diziam primar pelo desenvolvimento. O desenvolvimento não deve ser considerado tão importante ao lado das condições de vida das pessoas, acredito que deve-se ter como prioridade garantir às pessoas a satisfação de suas necessidades de sobrevivência e que se ensine como buscá-las, se não, independentemente de ser uma mulher ou um homem no governo, o país não será plenamente justo.
Guilherme Fernando Schnekenberg
Agradecimentos
Marcia Aparecida Lopes Saab, professora de História da UTFPR
Marcia Rodrigues, professora de História do Colégio Estadual Professor Eugênio Malanski

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