sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Falho Sistema de Punição

            A maioria das pessoas há de concordar que cadeia de verdade mesmo não acontece para as pessoas mais favorecidas da sociedade. Até mesmo em novelas de redes televisivas de mídia alieanadora se observa que os mais ricos não vão presos. Em Belíssima, novela de 2005 da rede globo, a personagem diva de Fernanda Montenegro fugiu para Paris, obviamente não tendo sido presa por atrocidades que não são comuns nem pra vilões de novela, e Ainda levou de quebra o personagem do Cauã Reymond com ela.
            A começar pela cela especial para prisioneiros com curso superior. A gente sabe que até pouco tempo atrás pouquíssimos pessoas das classes baixa e média baixa tinham faculdade. Mesmo agora com as cotas e o ENEM esse acesso não é democrático, por causa de todas as adversidades que os alunos da rede pública, principalmente os negros, enfrentam enquanto os da rede privada têm todas as facilidades para ir à escola, salvo raríssimas exceções. Sendo assim, cela especial é coisa pra rico. Ou pelo menos rico em potencial.
            Há ainda entre as vozes populares uma teoria que diz que a cela especial é para que os mais instruídos não ensinem técnicas mais elaboradas de crime e os menos instruídos ‘infectem’ os mais instruídos com sua mente muito mais criminosa, pasmem.
            Dentro da cadeia, também é mais fácil pra quem tem mais dinheiro e influências. A gente sabe que aqueles que têm mais admiração dos outros na cadeia podem se aproveitar dos outros (em vários sentidos!). E quem tem mais dinheiro pode subornar os ladrões por mais conforto.
            Além disso, pessoas com mais dinheiro podem contratar o melhor advogado, enquanto outros têm que ser defendidos por aqueles designados pela justiça ou apelar para os estudantes dos núcleos de prática jurídica das universidades. Isso sem falar nos juízes. Já ouviu falar que 80% deles acham que são deuses? Os outros 20% são, sem discussão! Isso quer dizer que não param para questionar seus valores e decisões, que obviamente nem sempre são justas. Ouso dizer que grande parte deles se formou e vive alienadamente, e poucos se preocupam em analisar a legitimidade das leis frente às condições que levam uma pessoa carente a cometer algum ‘crime’.
            Não é que se você teve motivos você não precisa pagar, mas esses motivos devem obrigar os tribunais a criar uma forma de punição em que os ‘criminosos’ realmente aprendam que e porque o que fizeram está errado. Torno a dizer que os tribunais não se importam em dar condições justas, igualitárias, mas se o fizessem, crimes não seriam cometidos. Precisamos de mais psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, professores, sociólogos e assistentes sociais (que não estejam a serviço dos ricos e) que determinem o que é que nós temos que fazer para garantir direitos, e por isso desprezo um pouco a necessidade de advogados.
            Mas para falar a verdade esse texto era para ser mais sobre fiança do que os fatores envolvidos na punição, o que não pude fazer por um motivo que me deixou um pouco mais otimista com a constituição brasileira. Não que seja impossível haver erros em tudo que está escrito acima, mas minha intenção hoje ao por o lápis de encontro com o papel era criticar o fato de que uma pessoa rica pode escapar de alguns crimes pagando. Remete às indulgências da Igreja Católica não é mesmo? Não queria ser nenhum Martinho Lutero, mas dei com os burros n’água ao descobrir que o preço da fiança se adequa ao preço que o criminoso pode pagar. Mesmo assim, fica difícil para quem tem menos dinheiro e rouba para comer, já que se, por exemplo, a fiança for reduzida à metade de um salário mínimo essas pessoas ainda não terão condições de pagar. E também há aqueles ladrões de colarinho branco que conseguem esconder as provas subornando e envolvendo testemunhas, ou os que roubam por meios lícitos, como acontece no capitalismo. E o problema é que muita gente desinformada acha isso justo, bonito e exemplar, pois alguém “trabalhou e venceu na vida”. E muitos chegam novamente a cargos altos, como no senado, governo estadual e municipal. E agora, como faz para mudar?
Guilherme Schnekenberg,
diretamente de Ponta Grossa, Paraná.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PETA(nos) e VEGAN(os)?


               Alcançar um mundo cada vez mais sustentável é um objetivo incitado na humanidade nos últimos anos, já que a Mãe Natureza agora dá suas respostas depois de tantos anos de exploração desenfreada.
            Umas das formas de sustentabilidade, afirmam alguns, seria um mundo vegan – sem qualquer produto de origem animal ou, no mínimo, vegetariano – sem carne. A produção de gás carbônico seria reduzida em 40% se a população mundial deixasse de consumir esse item tão valorizado no cardápio.
            Seja pela saúde, preocupação ambiental ou defesa dos animais, adotar uma dieta vegetariana pode trazer muitos benefícios, como algumas estatísticas indicam: pessoas que seguem dietas vegetarianas têm menor incidência de doenças cardíacas, câncer e osteoporose.
            Apesar disso, afirmam alguns cientistas que o consumo de carne pelos seres humanos trouxe uma grande vantagem em relação às dietas vegetarianas durante época pré-histórica: o cérebro pôde se desenvolver com maior ingestão de gordura, ferro e proteínas. No período Neolítico, porém, com a prática da agricultura, houve a possibilidade de se obter alimentos também ricos em proteínas, portanto a ausência da carne seria compensada por outras opções de origem vegetal.
            Defendem essa última idéia os mais de 2 milhões de ativistas do PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), uma ONG fundada em 1980 pela britânica Ingrid Newkirk. Essa instituição, segundo sua fundadora em uma entrevista para a revista ISTOÉ (12 JAN/20011), defende que “[...] animais são feitos de carne e sangue, como nós. Todos eles têm emoções, sentem medo e dor, amor e alegria, e querem permanecer vivos, assim como a gente.”
            A ONG, com o escritório situado em Norfolk (Virgínia, EUA), conta com um orçamento anual superior a 30 milhões de dólares, gerados através de arrecadações de fundos, pagamentos de taxas pelos integrantes e vendas de camisetas e produtos. Ela visa proteger animais de todos os atos de exploração humana promovendo educação sobre o assunto, investigações, pesquisa, resgate de animais, envolvimento de celebridades e campanhas de protesto, como nas propagandas da atriz canadense Pamela Anderson e do ex-baixista do Guns and Roses Duff Mckagan e sua esposa Susan Holmes.
            Os resultados desses movimentos podem ser vistos como vitórias. O PETA conseguiu acabar com os testes de segurança de veículos em animais vivos (a GM, para testar o impacto dos carros, colocava porcos vivos na pista). Evitou que 4 milhões de animais fossem submetidos a substâncias químicas (que já se sabia serem prejudiciais a seres humanos). Colaborou com a decisão da atriz Eva Mendes ao parar de usar peles após receber uma carta e um vídeo chocante de animais sendo escalpelados e até algumas ações agressivas, como invadir a página do Facebook da grife Donna Karan, a qual utiliza peles de animais em suas coleções, e escrever “Assassina de coelhos!”.
            Um dos novos engajamentos da instituição é de fazer com que a cantora Lady Gaga pare de comer carne, após o episódio em 2010 quando saiu na capa da revista “Vogue Hommes” e recebeu um prêmio no “MTV Video Music Awards” (Los Angeles) com trajes feitos de carne crua.
            Gaga explicou (ao menos tentou) que a roupa não foi uma ofensa, mas um modo de chamar a atenção para questões como o preconceito. "Se não defendermos o que acreditamos e não lutarmos pelos nossos direitos, logo teremos tantos direitos quanto a carne que cobre nossos ossos. Eu não sou um pedaço de carne", protestou ela no programa de Ellen DeGeneres. Em resposta, a apresentadora (que é vegetariana) lhe deu de presente um biquíni e uma saia feitos de vegetais.
            Você é hipócrita. Você, eu e todas as pessoas que consomem carne. Pelo menos é isso que Ingrid Newkirk afirma na entrevista à ISTOÉ “é hipocrisia comer carne e dizer que respeita os animais” – a não ser que você diga não respeitar os animais. Talvez o respeito que alegamos ter não seja suficiente nem para a presidente da fundação nem para os animais que colocamos à mesa todos os dias.

            Para os que têm interesse em acessar o site do PETA, aqui vai o link: http://www.peta.org/.
            Aconselho o vídeo do Paul McCartney (é em inglês) que contém a descrição "GLASS WALLS" no site. A versão legendada pode ser encontrada nesse link http://www.youtube.com/watch?v=FgavacZ_47Q.

Sabrina Brigola

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Termos politicamente incorretos: Comunismo

           “Parece até um comunismo disfarçado!” foi a frase que ouvi da minha ex tia-avó favorita, ao reclamar do aumento do IPTU. Minha avó fez questão de completar: “Disfarçado? Tá virando um comunismo aberto já!”. Fica claro que elas são apenas duas das inúmeras vítimas do uso de termos políticos por uma cultura alienada.
            Assim como o anarquismo, o comunismo sofre um preconceito ensinado a nossos avôs por causa dos interesses de certos grupos. Qualquer um que tenha se interessado um pouco em história sabe que a ditadura foi financiada pelos Estados Unidos. O governo torturava e assassinava os “comunistas”, que muitas vezes apenas queriam um povo livre, não mudar o sistema político vigente. Ainda assim, há quem diga nos dias de hoje que a ditadura foi boa para impedir os comunistas de chegar ao poder. Muitas histórias sem sentido foram contadas para nos fazer pensar assim: “se os comunistas assumirem, o bispo vai aparecer pendurado naquele poste ali, filha!” ou então a clássica “comunistas comem criancinhas”. No 3º ano do ensino médio, eu tenho uma colega que acha que Hitler era comunista!
Se ser comunista é ser louco, então ser louco é querer igualdade e justiça social.
            Mas na realidade, quem somos nós? E o que há de tão errado em desejar viver num país onde todos tenham acesso às mesmas coisas?
            O comunismo nada mais é do que um sistema político e econômico onde não existe propriedade privada. Isto quer dizer apenas que se uma pessoa é dona de uma indústria e ganha dinheiro apenas por ser a  dona, essa empresa passará a ser de todos que trabalham nela. Ou seja, a indústria vai pra frente, porque todos estão interessados nisso, e o capitalista não fica ganhando dinheiro pra não fazer nada. Não se preocupe, sua casa ainda será sua! O necessário é que os meios de produção, as maneiras de ganhar dinheiro, sejam distribuídos igualmente, de forma que tenha trabalho pra todos. Ninguém precisa roubar, e ninguém ganha dinheiro injusto.
            Ninguém sustenta ninguém no comunismo. Você não vai trabalhar para um vagabundo. Muito pelo contrário, no comunismo as pessoas tornariam possível o trabalho de todos. Para falar a verdade, essa coisa de trabalhar para um vagabundo é o que acontece no capitalismo: o dono da empresa acha que faz mais porque correu o risco do empreendimento, porque começou uma empresa do nada, ou outros motivos absurdos e não lembra dos que tornaram seu sucesso possível. Em indústrias, os operadores têm salários fixos. Mas o dono da indústria exige muito esforço dos funcionários para que seus lucros aumentem. Mas os funcionários não ganham nada por trabalhar mais. Onde está a justiça nisso? E deus, onde é que está?
            Reforma agrária, cotas nas universidades públicas, bolsa família, e outros programas de assistência social, são formas que o governo tem de compensar aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades e a mesma educação que nós, privilegiados. Isto tudo está longe de ser uma atitude comunista!
            Outra visão que precisa ser repensada é a aplicação do sistema comunista no mundo atual. “Vai pra Cuba rapaz!” é uma frase de um tio que me disse que eu ainda tinha muita coisa pra aprender. O fato é que ele é um economista, que supostamente tinha que entender de sociologia, e não entende. As pessoas pôe a liberdade das pessoas nos países em questão como contra-argumento. Só que em nenhum lugar do mundo já se viveu o comunismo proposto pelos teóricos clássicos e militantes atuais. O que se vive é o socialismo, que não é plenamente um socialismo, já que está acompanhado de um regime ditatorial. Teoricamente, o socialismo é uma fase da revolução operária onde o Estado (esse sim em letra maiúscula, soberano porque representa o povo de verdade) é o dono de tudo e garante que todos sejam cobrados igualmente de acordo com suas capacidades.
            Nos atuais governos socialistas existem dois problemas que enxergo como os principais: o regime ditatorial e a falta de uma perspectiva econômica. Cuba ainda sofre o embargo econômico, e acaba tendo seu desenvolvimento comprometido. Se no Brasil o dinheiro fosse distribuído igualmente, nós sabemos que a renda de cada um seria suficiente. Só que os outros países, por perderem um pouco do mercado super consumista, não apoiariam, o que faria a economia decair.
            Sobre a liberdade, eu posso afirmar que até abriria mão da minha por dinheiro distribuído igualmente, se fosse a única alternativa. Mas não é preciso. O que ocorreu nos governos socialistas foi que o povo deixou de participar da revolução. Nenhuma revolução vai a lugar algum se os revolucionários deixarem-se ser governados ao fim dela. Deixar o governo nas mãos de uma pessoa é tolice. Você vive com pessoas em um grupo, e você é responsável por ele. Se discordar, pelo menos você há de saber que não pode deixar-se governar por um ser incapaz ou parcial nas decisões. Na antiga União Soviética, todos tinham emprego, mas os favoráveis ao capitalismo foram perseguidos.
            O importante mesmo é se informar. Não ficar achando que comunismo é ruim porque você não pode ter nada, já que sua vó disse. Nem sair por aí abominando a foice e o martelo porque são símbolos que demonstram violência. A humanidade pede por pessoas que julguem só depois de conhecer, e utilizando a razão para entender que naturalmente, tudo é de todos e por isso, as oportunidades têm que ser iguais. Cabe a nós desenvolver um sistema novo, talvez como o comunismo proposto inicialmente, e fazê-lo bom para todos, em liberdade e saciando as necessidades básicas de todos. E lembrar de procurar num dicionário antes de sair falando asneira, já que a sociedade está na situação ruim que está porque as pessoas não vêm problema em cometer pequenos erros linguísticos sem maldade, mas que acabam por comprometer as necessidades de alguns só por se falar.

Guilherme Schnekenberg