quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Se eu pudesse acabar há um segundo

Eu queria que tudo acabasse agora.
E não é culpa minha.
Não é falta de sorte, isso não existe.
Não é destino, isso não existe.
Não é falta de esforço, ou talvez seja.
Mas não é culpa minha.
Quem sabe se tudo acabasse agora, eu não sofresse o amanhã.
Se eu soubesse que a partir de hoje não sentiria mais nada.
Sofro e vejo sofrimento. Quero acabar com isso.
Mas se eu não visse, que diferença faria?
Se tudo acabasse agora, eu não precisaria levantar da cama. Sentar à mesa. Cortar o pão. Passar a manteiga. Queimar a boca com café. Escovar os dentes.
E depois estudar. Pra trabalhar. E só curtir o dinheiro. Quando a saúde não mais permitisse.
Se esse momento jamais acabasse, se o mundo acabasse nesse momento, se o mundo acabasse esse momento, com esse momento, e se acabasse, se acabasse, quando se acabasse, eu não faria mais nada?
Porque fazer nada parece tão bom e é tão vago.
Se acabasse agora, seria incompleto?
Se houvesse uma linha de chegada seria tão mais fácil.
E não é culpa minha.
Tentei sorrir. Respirar. Dormir. Respirar. Comer. Respirar. Ler. Respirar. Ouvir. Não respirar. É tudo finito, não é nada garantido.
O felizes para sempre é tão bonito. Como se aquela festa no final de um filme durasse pra sempre. Todos alegres. Os problemas resolvidos.
Eu não temeria, se acabasse há um segundo, quando não acabasse.
E o que você faz quando todos os seus sonhos se tornaram realidade?
E se a satisfação bastasse.
Mas não basta?
Se eu não precisasse decidir?
Se eu não tivesse que perseguir?
Mas e quando acabasse, agora, se acabasse, acabaria mesmo assim?
Para onde iria isso que sinto agora, meu caminho pretendido?
Queria poder culpar alguém.
Queria que chorar resolvesse.
Gostaria que sorrir resolvesse.
Mas nada acaba, porque eu quero sempre mais?
E eu? Tenho culpa eu. Tenho culpa?
Qual é o objetivo. Eu não sei?
Quem sabe se tudo acabasse, se quando acabasse, eu enfim descobriria, e no meu fim eu satisfeito acabaria, e talvez até a mim mesmo eu culparia


Guilherme Schnekenberg

3 comentários:

  1. *----------------------------------------*


    AAAAAAAAAAAAH

    GOSTEI DIMAISSSSSS

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  2. consegui me ver escrava dessa mesma rotina e dessa mesma falta de sentido de viver...

    amei o poema :)

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