sábado, 5 de março de 2011

Trote: Integração Inofensiva e Participação Voluntária?

            Primeira semana de aula é isto mesmo: fazer os calouros levarem nossas malas, sujá-los com um pouco de farinha, ovos e pasta dental, fazê-los pagar nossa cerveja e amarrar nossos tênis, pasmem. Tudo isso faz parte de um dos rituais universitários mais conhecidos hoje em dia: o trote.
            Apesar de ser proibido tanto pela lei municipal da maioria das cidades com curso superior, público ou privado, e pelo estatuto universitário também da maioria das universidades, o trote violento, humilhante, vexatório, continua acontecendo.
            O primeiro registro de trote violento foi em uma universidade na Alemanha, quando os veteranos obrigavam os novatos a consumir (isto mesmo, consumir) suas fezes e urina, além de usarem de violência e exigirem que eles os masturbassem. Garanto que você está espantado, mas isso parecia comum, tanto que quem passava por isso iria fazer no outro ano. Estranho não? Quem sabe em alguns anos eles não se espantem com o que fazemos também.
Calouro da UEPG internado
 no Hospital Municipal.
            Esse ano o trote da UEPG foi notícia nacional por levar 3 calouros ao coma alcoólico. Quem disser que eles beberam porque quiseram, está completamente enganado. Em primeiro lugar, essa história de que tudo que envolve trote é voluntário da parte do calouro, é mentira. É como a história dos “pobres vagabundos”, uma tecla na qual vocês percebem que eu vivo batendo. Os calouros são induzidos a carregar malas e etc. e tal. Quem não deixa cortarem o cabelo então... Há 3 anos no curso técnico em agroindústria da UTFPR um dos calouros não aceitou isso, e por esse motivo (e alguns outros motivos que foram agravados por esse) ele foi uma das pessoas que jamais se tornaria ‘legal’ naquela universidade.
            Quanto ao trote da UEPG, os calouros beberam pelo mesmo motivo para o qual eu não liguei ao não deixar (inicialmente) que cortassem meu cabelo: os que não beberam, não vão ser legais pelos próximos quatro ou cinco anos. O problema é que você realmente pode escolher não participar desta bagunça, e não ligar para o fato de não ter tanta moral com a galera. Só que isso não é uma coisa que você vá fazer sem algum tipo de influência. Até pra ser careta precisa ser influenciado. É claro que os colegas deles não vão achar super legal entrar em coma alcoólico. Mas uma vez que você começa a beber... tem gente que não consegue se segurar (e não tem culpa disso!). E é óbvio que quem não quis dar um golinho vai ficar com menos ‘moralzinha’. Do primeiro gole pra depois, é um pulo! Agora que isso aconteceu, os veteranos querem se livrar, como se não tivessem feito uma enorme pressão pros calouros beberem.
             O trote não passa de uma forma dos veteranos usarem os calouros como degraus para parecerem mais legais, e eu venho dizendo isso desde 2008. Eles precisam, não tem uma forma realmente boa de parecer boa gente. Pra começar, não tem um pensamento sócio-político muito ético. Gostam de músicas sem conteúdo (e ainda se acham no direito de criticar a dos outros) e uma das vantagens que contam é quantas meninas (ou meninos) ‘pegaram’ nas férias. Trote não é integração, forma de fazer amizades com calouros. É uma forma sutil de dizer “eu sou legal e alguém tem medo de mim”, como se isso fosse um motivo pra ser admirado.
            Uma forma de integração muito melhor são os chamados “trotes sociais”. Há quem fale mal das universidades particulares, e da forma de ingresso nelas. Eu sou um deles, mesmo que a nossa própria UTFPR não esteja tão à frente assim. Mas algo que temos que reconhecer é o trote social do Cescage. Os calouros são divididos em equipes coordenadas pelos professores, que prestam assistência à saúde, orientação jurídica, reformas das casas e auxílio às famílias das comunidades carentes. Sim, é o trote legal de Ponta Grossa. Esse ano, na UFPR, os calouros também foram convocados para uma obra social: reformar uma creche no bairro Cajuru, em Curitiba. Isso promove uma integração verdadeira e uma chance de fazer algo benéfico para a sociedade, mesmo que, em muitos casos, seja a única vez.
            Há quem diga que Ponta Grossa só sai nos jornais nacionais quando acontece algo de ruim na cidade. E é mesmo! Ah, não, mas isso é culpa da cidade... como da cidade? Infeliz que está lendo isso: você é o culpado por não fazer nada para parar isso, você está compactuando com isso. No site do Jornal de Londrina, a notícia do trote na UEPG foi finalizada destacando que na Unioeste e na Unicentro não houve registros de trotes deste tipo, e frisaram que na UEL e na UEM foi organizado um trote social. Os veteranos poderiam colocar a UEPG na lista das públicas com trote social e ajudar muitas famílias necessitadas. Mas é mais fácil culpar os que não são legais, como em todos os problemas do quesito humano no mundo. Isso pede mais uma reforma de cultura, e também uma seleção melhor nas universidades, que prime pela preocupação social, para a entrada de alunos que realmente pensem. Mas isso é outra história.
Guilherme Schnekenberg
Nota: como é do conhecimento da maioria, o vídeo da “banana no calouro” não está mais disponível no youtube, e só por isso não está aqui.

Um comentário:

  1. concordo com vc totalmente... os trotes não passam de desculpa para alguns idiotas se acharem o máximo por humilhar as pessoas de forma ridícula.

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