sábado, 9 de abril de 2011

Dai a César o que é de César

            Não que eu acredite no que está escrito na bíblia. Mas acho que esta é uma frase adequada para nos orientarmos no mundo de hoje. Jesus pede que se dê a deus o que é de deus, e assim tudo fica com seus respectivos donos e tudo no seu devido lugar. Na verdade, nada é de nenhum dos dois, mas pensando com outra ótica podemos enxergar e agir menos egocentricamente frente a certas necessidades da nação.
            Mais ou menos no início das aulas na UTFPR, foi feita uma pesquisa sobre o meio ambiente pelo professor José Mauro, que ministra a disciplina referente a isto no curso técnico em agroindústria. Os resultados mostraram aquela comum visão de ‘desenvolvimento sustentável, e farei tudo que estiver ao meu alcance’ – o que não é verdade, porque não adianta pensar: tem que fazer. Todos acreditam que é possível controlar a utilização dos recursos ambientais, coisa da qual eu já não tenho mais tanta certeza. Porém, duas respostas mostraram uma visão que eu considerei contraditória. Uma era referente à criação de um imposto específico para a despoluição dos rios, outra dizia respeito a pagar mais pela troca nos mercados para sacolas recicláveis.
            Que o imposto no Brasil está sendo muito mal aplicado, e por isso a criação de outro seria muito injusta, eu sei. Mas não venha me dizer que um mercado pode ganhar mais por oferecer sacolas recicláveis. Além da procura maior, a partir do momento que ele age pelo meio ambiente, porque o mercado deveria ganhar mais lucro por cumprir uma determinação legal? Seria dever apenas do mercado arcar com esse custo, assim como a bilhetagem eletrônica da VCG, o que não acontece. Mas as pessoas ainda acham lindo dar dinheiro pras empresas privadas, e pro governo elas não querem perder mais uma parcelinha do dinheiro que tiveram tantas oportunidades para ganhar. Eu também não, só que se o imposto no Brasil fosse corretamente adequado, para consertar as desigualdades sociais e prestar serviços de necessidade das classes populares, eu acredito que o dinheiro arrecadado por impostos ainda não seria suficiente. Não sou a favor de corrupção, sou só contra esse preconceito contra o governo.
            Nessa semana houve uma enquete na página virtual da revista Veja: “Você concorda com a intervenção do governo na administração de empresas privadas? Como era de se esperar, eu fui um dos 25 que votaram sim, contra os 416 que são contra. Quando se trata de uma empresa grande como a Vale, o governo tem que intervir porque é a vida de muita gente que está envolvida, por causa de toda aquela coisa econômica que eu nunca vou entender. Ao meu ver, é super importante existir empresas privadas com certo controle do governo, indireto, pela legislação, ou bem mais direto. Pegando o exemplo da própria Vale, que deu origem à enquete, e tem dado lucro graças apenas à injeção de dinheiro do governo. Ou outras empresas de capital misto, como a PetroBras, ou a COPEL, que são voltadas ao lado estratégico da economia, não deixam de dar lucro aos acionistas, e garantem certa qualidade no serviço à população, como não é o caso de muitas empresas por aí, já que elas visam apenas o lucro e o consumidor fica a ver navios.
            Mas o que mais me irrita é dizer que as empresas podem fazer o que quiser, que além dos milionários roubarem nossos recursos naturais, terras, condições de ensino, por centavos, eles ainda não devem nada ao governo, que ainda teria que evitar que roubássemos deles o que é nosso por direito. Quem fala em reforma agrária é logo chamado de comunista, enquanto os ruralistas tramam sem medo e comemoram a morte dos Sem-Terra, mas a própria reforma agrária só acontece nos casos que a produção agrícola prejudica o meio ambiente, utiliza trabalho escravo ou quando ela não acontece, ou seja, a terra é tão necessária para o “dono”, ou o modo dele de tirar dinheiro é tão justo, que só assim ela pode ser dividida. Não vejo comunismo nisso, apenas uma medida, de esquerda sim, que prima pela justiça. Mas quem disse que o capitalismo era um sistema justo mesmo?
            O que eu acredito é que temos que lutar pelos nossos direitos. Seja não pagando imposto que não seja necessário e não pagando mais por sacolas de compra obrigatória do mercado. O que tem acontecido é culpa da mídia que joga para cima do atual governo a culpa do que acontece hoje graças ao que ela mesma propagou direitinho: a busca sem valores pelo dinheiro e o controle das pessoas para vender. E como não temos uma visão crítica suficiente da mídia, acabamos ficando nessa de que um dono de empresa pode ganhar dinheiro, mas os governantes que trabalham muito mais não podem. Sei que há capitalistas que trabalham, mas acabam por ganhar mais do que merecem graças à mais-valia. Acredito num valor pago proporcional ao seu trabalho, e não em um dinheiro que varia de acordo com a alienação dos consumidores, e essa variação não é boa nem para eles: amanhã se a economia, tão bem controlada pelo atual governo, voltar a se desestabilizar, eles também vão ter prejuízos. Aí eu quero ver quem vai, mais uma vez achar linda a intervenção do governo na economia. Mas nunca pelas pessoas mais necessitadas.
Guilherme Schnekenberg

Nenhum comentário:

Postar um comentário